21 de março de 2017


Como acontece o desenvolvimento psíquico da 

criança?



O desenvolvimento psíquico da criança é iniciado já no ventre materno, por isso é preciso que os pais lhe transmitam afeto

Sabemos que a gravidez é um acontecimento marcante para a vida conjugal. Diante
disso, quando um casal não está maduro – psicologicamente falando – para tal
realidade, o que isso pode acarretar no desenvolvimento da criança ainda no ventre
materno e após o seu nascimento?
É preciso, primeiro, entender o que significa um casal que ainda não está
psicologicamente “maduro”. Podemos ver que, muitas vezes, uma mãe e um pai que
não tenham se preparado adequadamente para esse momento de ter um filho, podem
 rejeitar essa criança. Esses pais podem apresentar reações que funcionam para a
criança como se fosse uma rejeição; e isso pode ocorrer já no começo da gravidez,
porque, desde o início, a criança já tem uma vida psíquica. Quanto mais a criança se
 sente rejeitada no ventre materno, tanto mais ela vai sendo afetada na continuidade
 de sua gestação de forma tranquila. Essa é uma das principais consequências dessa
imaturidade.
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Qual o papel da mãe nos primeiros anos de vida da criança?

De início, a mãe é tudo. Ela é o “ambiente” da criança. Acima de tudo, é importante
avaliarmos que a criança não tem noção da separação entre ela e a mãe nessa fase.
Então, toda a disponibilidade que a mãe tem em atender as necessidades do bebê vai 
dando à criança essa noção de quem ela é. Esse é um processo gradativo, 
principalmente no primeiro semestre de vida do bebê. A mãe é o ambiente, o objeto a
 ser encontrado. É ela quem proporciona o atendimento das necessidades da criança.
 E, à medida que o bebezinho vivencia a satisfação de suas necessidades, ele vai,
 inclusive, desenvolvendo uma confiança nesse ambiente.
A mãe é aquela que, de início, supre as necessidades do bebê. Para isso, a natureza é
muito sábia, pois prepara a mãe, durante a gestação, para que ela tenha essa adaptação
absoluta para atender a necessidade do bebê. Nisso, a natureza demonstra sua soberania,
 pois prepara essa mãe para esquecer-se de si mesma e devotar-se totalmente ao bebê
que ela está gerando. Isso lhe proporciona conhecer seu bebê,  descobrir qual é a
necessidade dessa criança. Portanto, a mãe é o “mundo inicial” de seu filho.

Como o pai deve agir no processo inicial de desenvolvimento da criança?

É muito interessante observarmos que a criança não tem separação de quem ela é, quem
 é o mundo, quem é a mãe, quem é o pai. Porque, de início, ela [a criança] é “um”, é
somente ela. Com isso, o pai estará diretamente implícito na figura da mãe. Ele tem a
importância de ser suporte emocional para mãe, porque, se a mãe se devota inteiramente
 ao seu bebê, ela necessita também ser sustentada emocionalmente por esse esposo.
O homem precisa ter essa consciência de que é o suporte. O bebê vai perceber que o pai
 é uma pessoa diferenciada da mãe no fim do seu primeiro ano de vida. Mas o pai está,
desde o início, fazendo parte desse ambiente da criança, ele está “unificado” com a mãe
 exatamente para dar o suporte necessário a ela e, indiretamente, ao bebê.
Quando o bebê completa, aproximadamente, o primeiro ano de vida, percebe que é uma
 pessoa e que a mãe é outra. E quando ele começa a fazer essa divisão, percebe o pai
como a primeira pessoa que ele tem o conhecimento de ser uma pessoa inteira. O bebê
 vive esse processo de se diferenciar da mãe e também descobrir essa “terceira pessoa”,
 que é a figura paterna. É uma trindade que vai se formando. O pai tem uma função
prioritária na vida do bebê. O esposo é aquele que gera essa mãe, essa mulher que se
sente “inteira”, sustentada emocionalmente para enfrentar a etapa tão delicada da gravidez.

Construção da personalidade da criança

Eu voltaria até mesmo neste início, que é tão precioso e rico. Pense bem: até então,
a criança é “pura necessidade”. Ela ainda não tem capacidade de agir para conseguir
aquilo de que precisa para atender suas necessidades. Então, ao ter uma mãe que atende
 sua necessidade, o que a criança experimenta? Ela começa a desenvolver a confiança,
que é o “germe da fé”. Ela começa a acreditar que o mundo pode vir ao encontro daquilo
que ela necessita. Eu diria que o desenvolvimento dessa confiabilidade é a base da
esperança, na qual a sua necessidade será atendida.
Paralelo a esse processo, a criança vai percebendo a mãe como uma pessoa diferente dela
. A criança, então, passa a estabelecer uma “troca”, na qual ela se sente realizada naquilo
 que ela pode oferecer de si mesma. Eu diria que essa é a base da moralidade. A criança
tem constantes necessidades. Ela, cada vez mais, “usa” dessa mãe, exige dela. E à
medida que a mãe acolhe esse gesto espontâneo de “troca” que o bebê faz, ou seja, esse
gesto de carinho do bebê, ela faz com que se inicie, ali, o processo de desenvolvimento da
confiança e da capacidade de “dar algo” por parte dela.
A partir do fruto dessa relação de confiança inicial, os pais vão passando seus valores à
 criança. E a criança percebe que aquilo no qual os pais acreditam diz respeito também a
 ela. Dessa forma, vai se estabelecendo o conceito de Deus na vida dessa criança e, mais
 tarde, ela desenvolve uma ideia mais aprimorada do Senhor. Aí começa a base dessa
capacidade de a criança ter fé e confiança.

Reflexos da ausência paterna ou materna

Quando você fala dessa “ausência”, quer dizer essa situação de não ter a mãe ou o pai
 biológico presente, certo? Mas será necessário, de fato – e eu insisto muito neste ponto –,
 que existam pessoas que ocupem essa função materna e paterna. Numa situação de
falecimento, doença ou até mesmo pelas circunstâncias da vida, nas quais há essa
ausência materna ou paterna, é necessário que haja pessoas que consigam suprir esse
cuidado essencial necessitado pela criança. Avós, tios, padrinhos… Enfim, pessoas que –
 com equilíbrio e da maneira certa, com limites adequados para cada tempo – cuidem
dessa criança. Tudo isso com muito amor!
Estamos acostumados a ver muitos pais adotivos que fornecem um referencial de
segurança e carinho, um apoio psicológico – até mais do que muitos pais biológicos –,
 justamente por causa do amor que eles têm, estes pais estão prontos para fornecer o
suporte à criança.
Dra. Telma Maria Jordão Bevilaqua, psicóloga clínica que apresenta importantes aspectos 
sobre o desenvolvimento psíquico infantil.

Fonte: Canção Nova

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